segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dota no Brasil.

-MPB cantada em alemão direto de Berlim.

“Boa tarde, querido público, eu sou de Berlim e meu apelido lá é Kleingeldprinzessin que significa quem canta por moedas.”.

Com jeito meigo e leve sotaque, a alemã Dota Kehr começa pontualmente às 18 horas seu show na estação de metrô Trianon-Masp na tarde de 16 de janeiro.

A primeira canção apresentada é uma composição inédita, “Trägst Du Mich?” (algo como “Me leva?”, segundo a própria cantora).

“Obrigada, não esperava tantas palmas!”.

Logo em seguida, Dota toca uma inédita de Chico César, “Do além”. O público sorri reconhecendo o próprio idioma cantado pela alemã.

A opinião de Alexandre Alves; manobrista, 39 anos; representa a opinião do público presente na estação Trianon; “Estava passando e parei pra ver. Estou gostando muito, a língua é estranha, mas não atrapalha a música, que é muito bonita.”.

Na Berlim dos anos 80, enquanto o Kraftwerk propagava seu som eletrônico, Dota era embalada antes de dormir ao som de música brasileira por Carlos Leite, seu babá e cineasta brasileiro. Dota ganharia dele uma fita K7 de Elis Regina.

“Nunca gostei muito de Garota de Ipanema, Águas de março chamou minha atenção primeiro.”. Com dez anos decorava as sílabas de “Águas de março” pois não sabia nem uma palavra de português. Pouco depois foi apresentada à música de Astrud Gilberto.

Aos dezoito tinha uma banda de rock, mas viu que o timbre de sua voz não combinava com aquele estilo. Ao ouvir cada vez mais música brasileira, decidiu que essa era a música que deveria tocar. Com vinte anos de idade começou a tocar violão, ouvindo os álbuns de Chico César, e tocar bossa nova do jeito que “imaginava que fosse”.

Dota gravou de modo independente seus primeiros álbuns. Ela recorda que vendia cópias caseiras de seu primeiro disco no metrô de Berlim e em pequenos shows para conseguir mandá-lo finalmente para uma fábrica.

Tentando conciliar a faculdade de medicina com a música, a cantora veio pela primeira vez ao Brasil em 2003 com uma bolsa para pesquisar o Tunga penetrans, o nosso bicho de pé. Acabou conhecendo o compositor cearense Danilo Guilherme, aperfeiçoando seu português, sua técnica no violão e gravando seu segundo disco com ele.

Em 2004 finalmente conheceu Chico César em um show que o cantor fez em Berlim.

Agora, com 28 anos, lançou no Brasil a coletânea “Dota de Berlin” pelo selo “chita discos” de Chico César. Foi dele também a idéia de tocar no metrô em homenagem aos idos tempos de “princesinha da gorjeta” de Dota.

Além de Chico César, Dota adora Chico Buarque, Caetano Veloso, João Bosco, Djavan, Seu Jorge, Lenine e Cartola; que para ela tem a melhor capa de disco de todos os tempos, a do álbum “Verde que te quero rosa” (“sabe aquela em que ele tá tomando um cafezinho?”).

*[publicada na revista Brasileiros 7; fevereiro de 2008]

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