segunda-feira, 2 de março de 2009

As dores de uma resenha.

400 toques:

Você tem algo em mãos que te interessa e alguns dias para formar uma opinião sobre aquilo e redigí-la. As idéias vêm e vão, pois a limitação de caracteres faz com que você formule mentalmente muitas vezes o que quer dizer. Chegada a hora de realmente colocar no papel, você cria uma boa introdução que dê fôlego ao desenvolvimento do resto do texto, mas quando nota, ela acabou tomando boa parte do


600 toques:

Você tem algo em mãos que te interessa e alguns dias para formar uma opinião sobre aquilo e redigí-la. As idéias vêm e vão, pois a limitação de caracteres faz com que você formule mentalmente muitas vezes o que quer dizer. Chegada a hora de realmente colocar no papel, você cria uma boa introdução que dê fôlego ao desenvolvimento do resto do texto, mas quando nota, ela acabou tomando boa parte do espaço total a ser utilizado. Faz então a primeira edição de algo que nem chegou à metade ainda. Corta palavras, substitui termos, muda pronomes, reajusta vocativos. O “compositor” vira “músico”, pois


800 toques:

Você tem algo em mãos que te interessa e alguns dias para formar uma opinião sobre aquilo e redigí-la. As idéias vêm e vão, pois a limitação de caracteres faz com que você formule mentalmente muitas vezes o que quer dizer. Chegada a hora de realmente colocar no papel, você cria uma boa introdução que dê fôlego ao desenvolvimento do resto do texto, mas quando nota, ela acabou tomando boa parte do espaço total a ser utilizado. Faz então a primeira edição de algo que nem chegou à metade ainda. Corta palavras, substitui termos, muda pronomes, reajusta vocativos. O “compositor” vira “músico”, pois dessa maneira se economiza 4 toques que podem se juntar a mais 7 lá embaixo e formar a palavra “obrigatório” (tão em voga em uma vida de consumo) ou “essencial” (esse eufemismo que surgirá com apenas


1000 toques:

Você tem algo em mãos que te interessa e alguns dias para formar uma opinião sobre aquilo e redigí-la. As idéias vêm e vão, pois a limitação de caracteres faz com que você formule mentalmente muitas vezes o que quer dizer. Chegada a hora de realmente colocar no papel, você cria uma boa introdução que dê fôlego ao desenvolvimento do resto do texto, mas quando nota, ela acabou tomando boa parte do espaço total a ser utilizado. Faz então a primeira edição de algo que nem chegou à metade ainda. Corta palavras, substitui termos, muda pronomes, reajusta vocativos. O “compositor” vira “músico”, pois dessa maneira se economiza 4 toques que podem se juntar a mais 7 lá embaixo e formar a palavra “obrigatório” (tão em voga em uma vida de consumo) ou “essencial” (esse eufemismo que surgirá com apenas mais 5 toques). O meio se desenvolve falando sobre a coisa em si- porque aquele troço é especial. Daí você está perto do fim, pode tentar jogar uma opinião mais pessoal, agora que já contextualizou e


1200 toques:

Você tem algo em mãos que te interessa e alguns dias para formar uma opinião sobre aquilo e redigí-la. As idéias vêm e vão, pois a limitação de caracteres faz com que você formule mentalmente muitas vezes o que quer dizer. Chegada a hora de realmente colocar no papel, você cria uma boa introdução que dê fôlego ao desenvolvimento do resto do texto, mas quando nota, ela acabou tomando boa parte do espaço total a ser utilizado. Faz então a primeira edição de algo que nem chegou à metade ainda. Corta palavras, substitui termos, muda pronomes, reajusta vocativos. O “compositor” vira “músico”, pois dessa maneira se economiza 4 toques que podem se juntar a mais 7 lá embaixo e formar a palavra “obrigatório” (tão em voga em uma vida de consumo) ou “essencial” (esse eufemismo que surgirá com apenas mais 5 toques). O meio se desenvolve falando sobre a coisa em si- porque aquele troço é especial. Daí você está perto do fim, pode tentar jogar uma opinião mais pessoal, agora que já contextualizou e falou sobre o produto, e finalizar com alguma piada, jargão ou frase de efeito que seja coerente com o resto do texto. Neste caso, optei por finalizar desta forma: EITA, QUE BELEZA ESTE MEU QUERUBIM!!


Fiquem agora com 5 resenhas entre 1000 e 1200 toques publicadas recentemente, e inéditas neste folhetim.


Tropicália.

Azougue Editorial.

Organizadores: Sérgio Cohn e Frederico Coelho.

3 estrelas e meia.



Entrevistas e artigos reunidos revisitam o movimento.


É 1967. Hélio Oiticica apresenta no MAM do Rio de Janeiro sua instalação “Tropicália”, fruto de sua proposta, “Nova Objetividade Brasileira”. Glauber Rocha lança “Terra em transe” e influencia meio mundo; inclusive José Celso que está para encenar “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade. No meio deste rebojo cultural, ocorre o festival de música da TV Record onde Caetano Veloso concorre com “Alegria, alegria” e Gilberto Gil com “Domingo no Parque” - a Tropicália nascia naquele momento.

Neste volume da série “Encontros”, da Azougue Editorial estão reunidos textos, entrevistas e documentos- em sua maior parte do período de 1966 a 1970- deste que foi o movimento cultural brasileiro mais influente da segunda metade do século passado. O material é rico e distingue-se pelo fato de dar a palavra aos criadores do movimento e não aos teóricos- geralmente pouco ou nada envolvidos com o processo. O livro seria ainda melhor se não fossem os constantes erros de digitação que- entre muitas outras pérolas- faz os jovens “acalmarem Guevara” ao invés de o “aclamarem”.

*[publicada na Rolling Stone de fevereiro de 2009]


Não estou lá

Europa Filmes

5 estrelas




De Rimbaud a mártir do rock’n’roll- filme aborda as muitas faces de Bob Dylan.


Todd Haynes já havia esmiuçado o “camaleão” David Bowie em seu filme “Velvet Goldmine” de 1998. Em “Não Estou Lá” ele aponta as muitas psiques e estilos musicais de Bob Dylan- não só a troca de figurinos- ao longo de sua carreira.

O jovem Marcus Carl Franklin interpreta o cantor no início de carreira, em sua fase folk, ainda muito influe

nciado pela música de Woody Guthrie. Richard Gere, o cantor em sua fase de reclusão no começo dos anos 70. Ben Wisham é o Dylan poeta que, evasivamente, diz chamar-se Arthur Rimbaud. Cabe a Christian Bale sua fase de protesto e sua fase religiosa. Heather Ledger encarna o Dylan “pai de família”, atormentado pela imprensa e pelo fim de seu casamento. Finalmente, Cate Blanchett, cria os melhores momentos do filme vivendo o músico durante a turnê na Inglaterra em 1966; onde conviveu com o poeta Allen Ginsberg, com os Beatles, e foi vaiado pelos fãs por ter assumido a guitarra elétrica. Além de bastidores, cenas inéditas e estendidas, este Dvd duplo trás o filme em versão MP4 e entrevista com o diretor.


*[publicada na Rolling Stone de fevereiro de 2009]


Tom Zé

Estudando A Bossa- Nordeste Plaza.

Biscoito Fino

5 estrelas



Estudado em samba e pagode, Tom Zé estuda a bossa nova.


Depois da “pós-canção” de seu álbum anterior; “Danç-êh-sá”; Tom Zé retoma melodia e letra para homenagear a bossa nova. Pegando carona na efeméride dos 50 anos, o músico que já havia lançado em 1976 o obrigatório “Estudando o Samba”; e “Estudando o Pagode” em 2005; lança agora “Estudando a Bossa”.

Seus galanteios à aniversariante desfilam sem ufanismo pelas quatorze canções deste disco, que tem em David Byrne a voz masculina em meio às muitas convidadas, como Fernanda Takai, Zélia Duncan e Marina De La Riva – afinal, “há algo mais feminino que as síncopes da bossa nova?”, questiona Tom no encarte.

A inventividade do compositor engendra letras que, combinadas às belas melodias, criam canções extremamente “cantáveis” (terminologia dele próprio) como “Síncope Jãobim” (“Venha de síncope, meu bem/isso dá mão/no bole-bole do João”). Ótimas também são as parcerias com Arnaldo Antunes nas letras de “Rio Arrepio (Badá-Badi)”, “Barquinho-Herói”, “Filho do Pato” e “Mulher de Música”. O gênio de Irará dá mostras que está em um de seus melhores momentos.


*[publicada na Rolling Stone de dezembro de 2008]


Black Music

Arthur Dapieve

Editora Objetiva

3 estrelas



Romance cria encontro de jazz, rap e funk carioca em meio a sequestro.


Neste seu segundo romance, o jornalista e escritor Arthur Dapieve aborda a violência como castradora de sonhos e realizações. O livro começa com uma enérgica descrição do momento-e dos arredores- do sequestro de Michael Philips, garoto americano de treze anos que estuda em um tradicional colégio do Rio de Janeiro. A partir daí, a narrativa é desenvolvida em três partes focadas em seus três principais personagens. Primeiramente participamos da ação pela visão de Michael, fã de jazz que sonha jogar futuramente na NBA e se tornar um famoso trompetista. Em seguida He-man -traficante e líder do sequestro- conta por meio de um rap sua guerra no morro e seu sonho de se tornar o maior rapper do Brasil. Por fim, Jô -namorada de He-man- expele um monólogo em letras maiúsculas (uma espécie de Molly Bloom do “Ulisses” de James Joyce, inserida na favela) sobre suas idas ao baile funk e sua vida de mulher de bandido. Apesar de todo desespero que a situação traz, os três acabam criando um vínculo.


*[publicada na Rolling Stone de dezembro de 2008]


Supergalo

Supergalo #1

2 estrelas

Posto9 Música


Músicos vão pra reciclagem.


Após a dissolução de uma banda, é comum ver os novos projetos de seus integrantes caírem na graça de seu público e até mesmo ter seu alcance ampliado- vide Marcelo Camelo com Mallu Magalhães à tira colo. Outras vezes, a nova empreitada parece contentar apenas os fãs mais ferverosos- este parece ser o caso do Supergalo. Formada em 2007 por ex-integantes de grupos como Rumbora, Mascavo Roots e Raimundos, a banda lança agora seu primeiro álbum. O rock cru das doze faixas do disco é entremeado por alguns momentos de rockabilly (“O rei do não”) e de punk (“Nada!”), mas a tentativa frustrada de ironia nas letras é o que acaba permeando todo o álbum: “Tem fogos no céu!/mil luzes mais lindas que o reveillon!/as ruas têm cheiro de filet-mignon!” (Bombando em Bagdá). Ainda assim, cabível nestes tempos modernos do rock nacional.


*[publicada na Rolling Stone de novembro de 2008]

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