segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ciranda moura.

Músico resgata “lados B’s” de seu cancioneiro, dando-lhes nova roupagem.


Antes de se tornar músico, Alceu Valença foi jornalista e, antes de ser jornalista, já era poeta. É justamente este seu último lado que dá consistência a seu novo álbum; Ciranda Mourisca; refletido como está em suas letras engenhosas e na irmandade existente entre elas.


Neste primeiro trabalho pela gravadora Biscoito Fino, o músico resgata doze canções desconhecidas de seus 35 anos de carreira, dando-lhes nova roupagem acústica e leves toques orientais. “Percebi que algumas canções antigas poderiam assumir o conceito das cirandas. Busquei uma harmonização instrumental leve, com violas que remetem à música moura, ao Nordeste Ibérico”, justifica Alceu.


Fernando Pessoa é lembrado em “Loa de Lisboa”, Jorge Amado homenageado em “Chuva de Cajus” e Drummond de Andrade surge em “Maracajá”, para reaparecer depois em “Mensageira dos Anjos”. Os pontos altos do disco se dão quando o compositor assume então o engenho dos mestres e –valendo-me de um verso seu– “com a pena dos versos de chumbo que faço” recria canções como “Sino de Ouro” e a lindíssima “Deusa da Noite”. Um belo álbum lírico que talvez só venha a desagradar aos fãs do Alceu mais “agalopado”.


*[publicada na Rolling Stone de março de 2009]

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