segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Romantismo tardio.

Em clima descompromissado, Dylan se vale de acordeom para conduzir seu novo trabalho.


O título Juntos pela vida (Together through life) refere-se ao clima romântico presente no novo trabalho de Bob Dylan- amarrado com a bela foto de Bruce Davidson- mas também serve facilmente como descrição de sua relação com seus fãs. Com quase 68 anos, o cantor lança seu álbum de número 33, dando continuidade e mudando os rumos de sua carreira de rara longevidade.


Ao contrário de seus antecessores (Modern Times de 2006 e “Love and Theft” de 2001), Together through life surge quase nu de elaboração, abrindo mão das muitas camadas sonoras, da profusão de instrumentos e das canções mais longas geralmente esperadas- e presentes- nos trabalhos do compositor. O fato de o disco ter surgido de modo quase improvisado, surpreendendo até mesmo sua gravadora, legitima essa diferença- Dylan conta que trabalhando na canção “Life is hard” para o novo filme do diretor francês Olivier Dahan (“Piaf- Um hino ao amor”), outras foram surgindo naturalmente, o que o motivou a transformá-las em álbum.


Este tom de descompromisso segue impresso nas dez canções que o compõem- em sua maioria baladas românticas norteadas pelo som do acordeom, como em “This dream of you” - tornando-o um trabalho menor dentro da discografia do cantor. Este mesmo tom acaba remetendo a lados B´s como “Romance in Durango” do álbum Desire (1976)- também surgido de modo não planejado após o clássico Blood on the tracks (1975)- que ao invés do acordeom, se valia de um violino em todas as faixas.


Os pontos altos do disco estão em “My wife´s home town”, “It´s all good” e “I feel a change comin’ on”. Na primeira, Dylan homenageia Willie Dixon arremedando a melodia de “I just wanna make love to you”, na segunda retoma uma pegada mais roqueira e a habitual ironia de suas letas, e na última- uma bela canção, claramente otimista- admite que tem ouvido Billy Joe Shaver e lido James Joyce (I'm listening to Billy Joe Shaver/And I'm reading James Joyce).

Se os versos forem verdadeiros, não há o que se temer, a companhia é boa. Que venha o próximo álbum.


*[publicada na Rolling Stone de junho de 2009]





"Se ao menos eu tivesse escrito as letras!"


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